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sábado, 9 de julho de 2016

Portugal 2 x 0 País de Gales - Semifinal - Euro 2016


Escalações e Desfalques

Ambos os técnicos mantiveram suas formações padrões, mas tiveram importantes desfalques. Do lado de Portugal, Pepe e Willliam Carvalho estavam suspensos, sendo substituídos por Bruno Alves e Danilo, respectivamente. Renato Sanches continuou como titular no meio-campo, com André Gomes no banco.

Já do lado do País de Gales, o zagueiro pela esquerda Ben Davies estava suspenso. O técnico Chris Coleman moveu Chester para a esquerda, colocando James Collins na direita. Mas o desfalque mais importante do jogo foi Aaron Ramsey, meio-campista do Arsenal. Ele foi substituído por Andy King, que joga no Leicester campeão inglês, mas não tem a mesma capacidade criativa.


Meio-campos sem criatividade

Uma caracteristíca em comum dos dois times, e que acabou resultando em um jogo pouco empolgante, é a falta de criatividade no meio-campo. No caso de Portugal, uma escolha do técnico; para Gales, o desfalque de Ramsey foi determinante.

O meio-campo português se organiza em um losango muito peculiar. O homem mais avançado, Adrien Silva, se ocupa em pressionar os volantes adversário, atrapalhando a saída de bola, recuperando-a em posições avançadas, nas quais ele pode rapidamente acionar os atacantes. O homem mais recuado é um primeiro volante tradicional, dando uma proteção adicional aos zagueiros, e marcando o camisa 10 adversário. Já os homens dos lados, João Mário e Renato Sanches, se desdobram durante o jogo desempenhando funções de volante, ponta e meia. Apesar de Renato Sanches, a revelação do campeonato ter mostrado que pode ser um meia criativo, ele não opera com essa liberdade no esquema de Fernando Santos.

Já no meio-campo galês, a ausência de Ramsey foi determinante para a falta de criatividade. Isso ficou claro durante o jogo, em que Portugal deixava Gales ter a bola, mas eles eram incapazes de produzir boas chances com isso, parando no bloqueio do meio-campo português. Os galeses acabaram recorrendo a muitos lançamentos longos que não deram certo.
No primeiro tempo, Gales teve mais a bola, mas só conseguiu tocá-la na defesa, abusando de lançamentos longos. Portugal conseguiu tê-la na zona em frente a defesa galesa, mas também não soube entrar na área.
Bale, arco e flecha

Contra a Bélgica, Gales foi capaz de apresentar um bom futebol graças a produtividade de seus dois craques, Bale e Ramsey, que eram encaixados em um esquema que lhes dá a liberdade e o espaço necessário para criarem. Quando jogam juntos, eles sabem se alternar entre criador e finalizador, de forma a confundir a marcação adversária. Contra Portugal, Bale tentou jogar pelos dois, ser arco e flecha, mas acabou sendo ineficaz devido a falta de boas opções de passe. Quando Bale recuava para armar, faltavam opções no ataque. Quando ele ficava no ataque, faltava alguém capaz de encontrá-lo com a bola. As únicas boas chances do País de Gales foi quando Bale conseguiu roubar a bola e partir em velocidade, conseguindo alguns chutes a gol. Foi pouco, mas foi o que ele conseguiu produzir.

Contribuia para a falta de opções do País de Gales o fato dos alas estarem mais cautelosos, tentando evitar que os zagueiros ficassem sozinhos contra Ronaldo e Nani, o que leva ao próximo ponto.

Ronaldo ajuda e é ajudado por Portugal.

Uma diferença marcante entre a postura de Portugal e Bélgica ao enfrentar o País de Gales foi o posicionamento de seus principal jogador frente aos avanços dos alas galeses. Pela Bélgica, Hazard voltava para compor a segunda linha de quatro, tentando ajudar o lateral esquerdo contra as subidas de Gunter. Isso não funcionava porque evitava que Hazard conseguisse lançar contra-ataques perigosos e comprometia a qualidade da defesa belga com um jogador sem vocação para o trabalho. Fernando Santos encarou o problema de forma diferente.

Com Portugal, os alas galeses se tornaram principalmente a responsabilidade dos meias pelos lados (João Mário e Renato Sanches). Quando algum ala tinha a bola, o meia mais próximo se aproximava, com o meia do lado oposto fechando pelo meio para evitar que os galeses tivessem superioridade numérica por ali. Isso permitia que Portugal tivesse números suficientes na defesa para enfrentar a ameaça de Kanu e Bale.

Mas, mais importante, dava folga a Ronaldo, que não gastava energia com os alas adversários, se posicionando de forma a poder levar perigo quando recebesse a bola, de frente para os zagueiros galeses. Esse tipo de estratégia, em que todo o time defende para que o craque do time resolva é antiquada, mas pode funcionar quando o seu craque é o melhor jogador do mundo atualmente.

E foi o que aconteceu.Em um jogo muito equilibrado, Ronaldo abriu o placar no início do segundo tempo em uma linda cabeçada em lance de escanteio. Em seguida, Ronaldo recebeu a bola na esquerda de Adrien Silva em contra-ataque, e no lance subsequente, apareceu na direita para chutar a gol, que foi desviado por Nani para fazer o segundo, efetivamente encerrando a disputa.

Bale se desdobrou entre meio-campo e ataque, e pouco conseguiu. Ronaldo foi mais econômico, concentrando suas ações na área, e acabou produzindo mais, com um gol e uma assistência.


Conclusão

Um jogo que foi marketizado como o enfrentamento de dois craques companheiros de time: Bale e Ronaldo. Apesar de geralmente esse tipo de simplificação é burra, nesse caso acabou se tornando adequada, principalmente pela ausência de criatividade nos dois meios-campos, o que deixou toda a responsabilidade por desequilibrar nos pés dos dois jogadores do Real Madrid.

Enquanto Bale tentou se desdobrar entre a armação e finalização de jogadas, o time português permitiu a Ronaldo se concentrar nas ações no terço final de campo, onde ele é capaz de desequilibrar. Bale se esgotou fisicamente sem ser capaz de alterar o placar, enquanto Ronaldo teve energia para mudar o panorama do jogo em um intervalo de cinco minutos.

Portugal não joga bonito, mas vai a final da Euro mesmo assim. É curioso ver Portugal voltar a uma final da Euro, jogando feio, e enfrentando o anfitrião. Repete assim a história da Grécia, que acabou campeã em 2004 vencendo Portugal na sua própria casa, apesar do favoritismo imenso dos anfitriões, que à epoca ainda tinham Figo e Ronaldo. Agora será Portugal que fará o papel do azarão contra um anfitrião que é amplamente favorito. É interessante também que o trabalho anterior do técnico Fernando Santos tenha sido justamente na seleção da Grécia.

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