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segunda-feira, 4 de julho de 2016

Alemanha 1 x 1 Itália - Quartas-de-final - Euro 2016


Alemanha muda o esquema.

Depois de observar a vitória da Itália sobre a Espanha (análise do blog aqui), o técnico Joachim Löw optou por mudar seu esquema para espelhar a Itália. Por isso, optou por escalar Howedes e Kimmich juntos. Anteriormente, ambos disputavam posição pela lateral direita. Contra a Itália, o primeiro foi zagueiro pela direita, e o segundo ala-direito. O objetivo aqui era ter jogadores para ocupar melhor os alas italianos, que causaram muitos problemas para os espanhóis. Assim, Hector e Kimmich, os alas alemãos, bateram de frente com Florenzi e De Sciglio, os italianos.

O grande desfalque italiano foi Daniele De Rossi, machucado. Com isso, a Itália sofreu grande perda na qualidade da saída de bola. Sturaro entrou no time, com Parolo se tornando o primeiro-volante.
Alemanha vs Italia - Football tactics and formations
O técnico alemão usou três zagueiros para anular a proposta italiana.

Diferenças na pressão


Com os dois times semelhantes no esquema, a diferença estava na atitude. A Alemanha aprendeu com a Espanha que pressão na saída da Itália apenas cria os espaços que ela deseja. Por isso, na saída de bola italiana, o trio Muller, Gomez e Ozil se posicionavam de forma a bloquear passes para os meias italianos, sem avançar para tentar a roubada de bola. A Alemanha só pressionava quando algum desses meias recebia a bola. Com isso, a Itália acabou trocando muitos passes entre seus zagueiros na zona a frente do seu gol, sem conseguir levar a bola pra frente, a não ser com lançamentos longos.

Já a Itália tentou pressionar fortemente a saída de bola alemã, e isso gerou boas chances logo no ínicio do jogo. Peculiarmente, em alguns tiros de meta, os atacantes italianos ocuparam de tal forma os zagueiros alemães, que Manuel Neuer demorava muito para cobrar, esperando que alguém se desmarcasse. Isso mostra tanto o nível de pressão italiana, quanto o comprometimento alemão com a saída de bola pelo chão. Algumas vezes, entretanto, Neuer era forçado a dar chutão.

Quando, a muito custo, a Alemanha contornava a pressão italiana na sua saída, a Itália recuava bem suas linhas, com uma linha de 5 homens na defesa, e os outros cinco homens (3 meias e dois atacantes) muito próximos, se movimentando de um lado pro outro do campo, conforme a posição da bola. Assim, a posse de bola alemã se concentrou na zona a frente da linha de meio-campo, com os zagueiros, que rodavam a bola entre si, de um lado para o outro, tentando contornar a marcação italiana. Entretanto, o posicionamento italiano significou dificuldades para a Alemanha entrar na área adversária.
Alemanha tem a bola no meio-campo, com seus zagueiros. Itália também tem a bola com os zagueiros, mas na defesa. Alemanha não consegue entrar na área italiana.


Times se anulam

Devido a inteligência de seus técnicos, ambos os times conseguiram trabalhar bem para diminuir a força dos pontos fortes dos adversários. Isso levou a uma partida tensa, em que um detalhe decidiria a partida, o que fazia com que os jogadores estivessem ainda mais concentrados.

Taticamente, as forças dos dois times foram diminuídas nesse jogo, graças as estratégias adotadas pelos adversários. Os alas italianos, que tinha muito espaço contra a Espanha já que os laterais espanhóis mantinham a linha de defesa e os atacantes marcavam os três zagueiros, dessa vez tinham adversários diretos na disputa pelas laterais do campo. Hector e Kimmich avançavam e empurravam os alas italianos para a defesa, ao mesmo tempo que os marcavam mais facilmente a partir da sua posição mais avançada.

Outra estratégia italiana que deu menos frutos nesse jogo foram as jogadas com Pellè. Contra a Espanha, ele encontrou muito espaço entre as linhas, se movimentando inteligentemente junto com Éder para causar problema aos dois zagueiros espanhóis. O uso de três zagueiros facilitou a marcação de Pellè, e o fato de que a Alemanha não avançava para pressionar a saída italiana significou menos espaço entre as linhas para ele.


Esquerda: Passes recebidos no primeiro tempo de Pellè contra a Alemanha.
Direita: Passes recebidos no primeiro tempo de Pellè contra a Espanha.
Pellè recebeu a bola em posições mais perigosas contra a Espanha.

Apesar de ter mais a bola, a Alemanha também não foi capaz de penetrar na área adversária como gostaria. Com o meio congestionado, e jogando com alas, a Alemanha tentou encontrar o gol rodando a bola de um lado pelo outro, e buscando cruzamentos na área, para Mario Gomez e Thomas Muller. Entretanto, isso na verdade era exatamente o que a Itália queria, já que seus três zagueiros são muito bons na jogada aérea. O único cruzamento que levou perigo foi de Hummels para Schweinteiger que resultou em gol, mas anulado por impedimento. A maioria das jogadas de lateral se concentraram pela direita, com Kimmich, mas ele pouco conseguiu produzir ofensivamente, parando na barreira italiana.


Giaccherini

O jogador mais interessante da Itália era Giaccherini. Dentro da rigidez do sistema italiano, e das dificuldades impostas pelos alemães, que neutralizaram os alas da Itália, o jogador com posicionamento e movimento mais dinâmico era Giaccherini. Posicionado pela esquerda do meio campo, ele avançava para se tornar um terceiro atacante pela esquerda, pressionando Howedes. Logo no ínicio do jogo, ele conseguiu roubar duas bolas no ataque que resultaram em boas chances de gol para a Itália. 

O time italiano buscava mais o jogo pela esquerda, justamente pela presença italiana. Geralmente, seu marcador mais próximo era Schweinsteiger. O alemão tem muita técnica e força, mas não está 100% fisicamente, o que dava margem para Giaccherini vencê-lo na base do vigor. O italiano geralmente fazia corridas verticais, partindo de uma posição em que estava marcado por Schweinsteiger para se juntar aos atacantes como elemento surpresa, sem que o alemão conseguisse acompanhar sua velocidade. Essa oscilação entre meio e ataque foi a maior causa de problemas para os alemães no jogo. Em uma ocasião, Kimmich demorou para formar a linha de impedimento, o que deu margem para uma corrida de Giaccherini que foi a melhor chance italiana no primeiro tempo.

Ações de Giaccherini no primeiro tempo: 3 bolas recuperadas no ataque, levando a chances de gol para a Itália.


Alemanha faz gol de Itália

O jogo progrediu com padrão se repetindo: A Alemanha tendo mais a bola sem penetração, e a Itália sem muitas oportunidades de contra-ataque, mas levando um pouco mais de perigo, principalmente com a movimentação de Giaccherini. No geral, poucas chances perigosas. Ironicamente, o gol que abriu o placar acabou saindo em uma jogada com estilo mais italiano que alemão: A Itália pressionou a saída de bola de tal forma que Neuer teve de tentar o lançamento longo. Mario Gomez disputou a bola pelo alto, perdeu mas conseguiu atrapalhar o suficiente para que a bola sobrasse para Ozil, que tocou para Gomez, na ponta-esquerda. O centroavante conduziu bem, esperou a ultrapassagem do ala Hector, e deu um lindo passe que quebrou a defesa italiana. Hector conseguiu o cruzamento - desviado - para Ozil, que fez o gol. 

Lançamento longo do goleiro, centroavante forte para matar a bola, saindo da área, penetração do ala e chegada de meio-campistas ao ataque eram todas características mais italianas que alemãs. Neuer no lugar de Buffon, Gomez no de Pellè, Hector no de Florenzi, e Ozil no de Giaccherini. Isso foi uma mostra de como a Alemanha tem mais repertório do que teve a Espanha. Sabe atacar com paciência, mas é também muito perigosa no jogo direto.

Logo depois do gol, a Alemanha teve seus melhores momentos no jogo. Optou por tentar sufocar a Itália de forma que ela não conseguisse tentar a reação. Quase deu certo. Gomez teve outra oportunidade, aparecendo livre na área, e finalizando de calcanhar de costas para Buffon, que fez ótima defesa. Poderia ter sido o segundo gol, que mataria o jogo de vez.

Itália melhora com Éder

Depois do gol e da blitz alemã que veio a seguir, a Itália começou a se recuperar no jogo. Uma mudança interessante foi a mudança no lado dos ataques. Até então, a maioria das jogadas ofensivas italianas foram pela esquerda, principalmente com a participação de Giaccherini por aquele lado. Depois do gol, Éder começou a aparecer mais, sendo alvo de jogadas pela direita. Essa mudança pareceu surpreender a Alemanha, que teve dificuldades em afastar as jogadas por aquele lado. Boateng foi forçado a dar escanteio por ali, e no lance subsequente, um cruzamento pela direita acabou resultando no pênalti, com uma baita contribuição de Boateng, que pulou com os braços abertos dentro da área. O gol pode ser atribuído a um erro individual, mas também foi o resultado de uma variação no estilo de jogo do time italiano, que os alemães não estavam esperando.

Passes no ataque da Itália até o momento do gol alemão e depois do gol: mudança de lado.




Conclusão

O jogo equilibrado precisou de 8 pênaltis para cada lado para determinar quem teria a vaga na semifinal. Taticamente, os dois técnicos fizeram o dever de casa e trabalharam seus times para neutralizar os pontos fortes dos adversários. Apesar do time italiano ter nomes menos expressivos, a Alemanha se viu forçada a mudar o seu esquema clássico para enfrentar a Itália, o que é um testamento para a força do time comandado por Antonio Conte. Conseguiu jogar de igual para igual com o time campeão do mundo, e que tem o mesmo técnico há 10 anos. O técnico italiano agora se prepara para assumir o Chelsea, enquanto o futuro da Itália é uma incógnita.

Uma característica interessante di jogo foi como a bola passou bastante tempo com os zagueiros. Os três zagueiros italianos e os três alemães participaram ativamente da construção do jogo das suas equipes. Isso mostra a necessidade atual de ter zagueiros com habilidade no passe, e cada vez menos zagueiros-zagueiros. David Luiz e Thiago Silva são exemplos no Brasil que devem ganhar uma chance com Tite, pois podem render bastante em um time bem ajustado.

Além disso, o que já não é novidade, é a participação dos atacantes sem a bola, seja pressionando a saída, ou recuando para ocupar os espaços e dificultar as linhas de passe dos adversários. No futebol moderno todos precisam trabalhar juntos, e isso não é um detalhe, mas parte importantíssima do plano de jogo de cada equipe, que pode render muitos frutos se usada corretamente. 

O jogo foi muito bem disputado, tenso, e incrivelmente equilibrado. Uma aula de futebol bem jogado e bem pensado.

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