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segunda-feira, 1 de julho de 2013

Brasil 3 x 0 Espanha - Final da Copa das Confederações

Os donos da casa destruíram a Espanha campeão mundial, quebrando uma sequência invicta de 29 jogos oficiais. Fred marcou duas vezes no inicio de cada tempo pra colocar o Brasil em situação confortável e atrapalhar o plano de jogo espanhol. Felipão, tido como ultrapassado, tomou emprestado conceitos de jogo de times vencedores como o próprio Barcelona, o Real Madrid e o Bayern pra fazer da Seleção um time altamente competitivo, que jogou a final em altíssimo ritmo.


Aquecimento

A seleção brasileira chegou na final após vencer o Uruguai por 2 a 1 em uma semifinal emocionante, marcada pelas confusões tipicas de confrontos sul-americanos. Felipão usou o campeonato com um time e o manteve durante todo o campeonato, apostando no desenvolvimento de entrosamento e coesão. Para a final, o time foi o mesmo da abertura, mesmo com Paulinho dúvida por causa de gripe.

A Espanha teve de enfrentar a prorrogação e disputa de pênaltis contra a Itália na semifinal. O jogo foi em Fortaleza na quinta-feira, o que deu a ela um dia a menos para se preparar em comparação com o Brasil. Os jogadores espanhóis também se envolveram com algumas polêmicas no decorrer do campeonato, primeiro com um furto nos quartos dos jogadores e depois com um suposto envolvimento dos jogadores com prostitutas. Vicente Del Bosque optou por começar o jogo com Juan Mata, quando muitos esperaram David Silva ou Fábregas no time. O resto do time foi o esperado.

O jogo marcava o primeiro encontro Brasil x Espanha desde 1999, e, portanto, a primeira vez que a geração espanhola multicampeã enfrentava a seleção mais vezes campeão do mundo. Era ainda o encontro de Neymar com muitos futuros companheiros de Barcelona.

Gol Relâmpago
Logo aos dois minutos de jogo, uma bola longa de David Luiz encontrou Hulk, que dominou pela ponta direita e cruzou. Fred, Neymar, Arbeloa e Piqué disputaram a bola, e o lance terminou com Fred, no chão chutando para abrir o placar. O jogo começava perfeito para os donos da casa. A Espanha se via forçada a buscar o gol, enquanto o Brasil podia se dar ao luxo de esperar o erro adversário e sair rápido no contra-ataque com Neymar.

Laterais esquerdos subindo mais. Zagueiros acompanhando Torres de perto. Luiz Gustavo e Busquets dando o equilíbrio defensivo. Neymar contra Arbeloa e Pique, levando vantagem.

Pressão alta no inicio
O Brasil continuou a primeira meia-hora de jogo aplicando uma marcação forte e bem alta no campo, tentando sufocar a saída de bola da Espanha e impedir que ela pudesse impor seu ritmo tão conhecido. Essa estratégia já havia sido utilizado por Mourinho com o Real Madrid, sempre com ritmo forte no inicio dos jogos, e depois esperando mais no final dos jogos. A marcação na frente fazia a Espanha perder a bola ou recorrer a chutes longos, melhor para a boa zaga brasileira para cima de Torres e Pedro.

Compactação das linhas
Além da marcação na frente na saída de bola, a seleção contou com Luiz Gustavo e Paulinho mantendo a vigia na frente da zaga, sem deixar espaços entre as linhas e vigiando Iniesta e Xavi de perto, forçando os erros. Paulinho e os laterais tiveram um jogo um pouco mais discreto que os anteriores - apesar de uma chance do volante de encobrir Casillas - mais focados em conter a Espanha e roubar bolas que pudessem ser entregues rapidamente para Neymar ou Hulk, estratégia chave do Milan na vitória por 2 a 0 na UCL sobre o Barcelona

Laterais esquerdos com liberdade
Os times empregavam um método semelhante para cobrir seus dois laterais esquerdos, Marcelo e Jordi Alba, pontos fortes dos times nesse campeonato. Quando eles avançavam ao meio-campo, um zagueiro cobria abrindo pela esquerda - David Luiz e Sergio Ramos - e o primeiro volante caia para o centro da
zaga - Luiz Gustavo e Sergio Busquets. No decorrer do jogo, as subidas dos dois foram menos frequentes, principalmente de Alba, muito preocupado com Hulk. O efeito é que Marcelo normalmente atraia a marcação de Pedro até a intermediária, e David Luiz recebia a bola pelo lado esquerdo da zaga com tempo e espaço para fazer lançamentos longos na direção de Fred e Hulk. Daniel Alves, pelo lado direito, pouco subiu e fez grande partida na marcação.

Zagueiros brasileiros muito próximos dos atacantes espanhóis.
Felipão instruiu Thiago Silva e David Luiz para acompanhar Fernando Torres de perto quando os espanhóis tivessem a bola, mesmo se ele saísse da área para tentar tabelar com os meias. Apesar dos perigos de deixar espaços nas suas costas, a estratégia funcionou bem no decorrer do jogo, impedindo que o atacante espanhol tivesse grande impacto no jogo e ao mesmo tempo quebrando o passe da Espanha. O único momento em que o espaço deixado pelos zagueiros foi efetivamente explorado pelos espanhóis foi na enfiada de Mata para Pedro, que bateu Júlio César mas David Luiz salvou em cima da linha.

Contra-ataque rápido pelas pontas
Como PSG, Real Madrid e Milan mostraram nessa temporada, a melhor rota para atacar o Barcelona - e a Espanha por extensão - é ativando rapidamente pontas nos canais entre os laterais e zagueiros. Lavezzi, Lucas Moura, El Sharaawy, Kevin Prince Boateng e Cristiano Ronaldo foram alguns que tiraram proveito dessa estratégia ao longo dessa temporada. Aqui, a dobradinha Hulk e Neymar se mantiveram sempre em posição pra explorar o contra-ataque. Assim que a bola era perdida pelos espanhóis, rapidamente um dois dois era acionado, partindo em velocidade em direção do gol. A nova contratação do Barcelona levou a defesa espanhola a loucura durante o jogo, conseguindo amarelos pra Arbeloa - que deveria ter sido um vermelho - e um vermelho para Piqué. Ele ainda conseguiu um gol chutando forte de esquerda.

Fred importantíssimo
Fred fez dois gols no jogo, e mostrou todas as qualidades pela qual é o titular absoluto da posição com Felipão. Repetindo o sucesso de Pazzini, Ibrahimovic e Mario Gomez contra o Barcelona, Fred serviu como um ponto focal que servia de alvo para os lançamentos longos da defesa - especialmente de David Luiz - que escapavam da pressão espanhola, bem menos forte que em outros tempos. Repetidas vezes Fred conseguiu amortecer a bola para Neymar, Oscar ou Hulk receberem em condições de correr com ela. Além disso, mostrou movimentação e aplicação tática para ajudar na marcação, principalmente a Jordi Alba, o lateral mais perigoso da Espanha. No seu segundo gol vemos como ele inverte posição com Neymar para chutar da ponta-esquerda e vencer Casillas. É claro que seu forte é dentro da área, mas nesse jogo ele demonstrou muitas qualidades de um atacante moderno, sendo talvez o melhor jogador do Brasil no jogo. Ainda ajudou nas bolas paradas na defesa.

Del Bosque esgota o banco em busca de objetividade
Logo após levar o terceiro gol, o técnico espanhol fez sua substituição tirando Juan Mata, ótimo jogador mas pouco efetivo no jogo, para colocar Jesus Navas, ponta direita tradicional, que busca sempre a jogada de linha de fundo e o cruzamento. O objetivo era atacar Marcelo, lateral com mais liberdade do Brasil. O resultado foi quase imediato, com o lateral cometendo penâlti em cima do espanhol. Sergio Ramos chutou pra fora, junto com as poucas esperanças espanholas. O técnico ainda tirou Torres, inexistente em campo devido a marcação adiantada dos zagueiros para colocar Villa, artilheiro da Copa do Mundo com 5 gols. O substituto pelo menos conseguiu fazer Júlio César trabalhar mais. No intervalo, ele já havia tirado Arbeloa, horrível no combate a Neymar e mais ainda no apoio ao ataque, e colocado Azpilicueta, mais ofensivo e técnico. Mas quando Piqué foi expulso por falta cinica em Neymar, a Espanha não tinha mais substituições, de forma que Busquets virou zagueiro e a Espanha se organizou num 4-4-1. A partir daí o jogo progrediu sem muitas ocorrências, apenas ocasionais escapadas da dupla Fred - substituido por Jô - e Neymar.
Laterais da Espanha subindo forte. Neymar e Oscar invertendo posições. Sistema defensivo forte contra o ataque total espanhol, Fred e Neymar combinando bem pelo meio, causando a eventual expulsão de Piqué. Navas consegue pênalti de Marcelo.

Felipão introduz passadores.
Com a vantagem no placar e na quantidade de jogadores em campo, o técnico do penta tirou Hulk - que fez grande partida contra Alba - e Paulinho - grande partida contra Xavi - para a entrada de Hernanes e Jadson, mostrando que o Brasil também tem passadores, e a partida progrediu de forma lenta, com ambos os times esperando o final do jogo. A entrada de Jadson no lugar de Hulk também liberou Daniel Alves para o ataque, com o meia do São Paulo jogando mais por dentro que o ponta do Zenith. O lateral do Barcelona finalmente pôde aparecer bem no ataque, forçando o recuo de Pedro.

Felipão introduz passadores para esfriar o jogo. Espanha com 10 e entregue. Daniel Alves com liberdade.

Conclusão
O Brasil mostrou que tem time para colocar em campo as estratégias necessárias para enfrentar grandes times da atualidade. O "antiquado" Felipão deu uma cara a seleção que envolve pressão no inicio dos jogos - empurrado pelo hino nacional bradado pela torcida e jogadores - contra-ataque letal com Neymar - nem tanto com Hulk, apesar da boa final do paraibano. A seleção venceu Itália e Espanha, finalistas da última Euro, e Uruguai, campeão da América. Fez isso mantendo características gerais mas também fazendo pequenas adaptações a cada situação. O tempo de treino fez muito bem para seleção, que sobe um patamar em direção a Copa do Mundo. Ainda não é a grande favorita, mas isso faz bem para o time. Resta o desafio de enfrentar Argentina e Alemanha, dois estilos que podem ajudar ainda mais a seleção a crescer.
Para a Espanha, resta aprender com a derrota e adaptar seu jogo, algo que ela soube fazer na última Copa. Além disso, os desafios logísticos que ela enfrentou durante o torneio-teste também são lições importantes para fazer ajustes que ajudem os jogadores a renderem mais nesse torneio que promete ser mais desgastante que outras Copas do Mundo. Ainda assim, a Espanha permanece no primeiro escalão do futebol mundial, ainda que na descendente.

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